Administrados sob orientação profissional, probióticos podem ajudar a fortalecer a função barreira e a impedir que microrganismos nocivos invandam a corrente sanguínea
Seu cãozinho comeu algo que não devia e acabou com diarreia? Calma, essa situação é mais comum do que parece, mas requer sua atenção! Alguns alimentos podem interferir no equilíbrio das bactérias benéficas que vivem no intestino. Com frequência, esse desequilíbrio pode causar inflamação intestinal, dificultar a absorção de água, nutrientes e deixar o organismo mais vulnerável.1 Essa condição é chamada de disbiose.1,2

Quando esse equilíbrio é perdido, uma das consequências possíveis é a translocação bacteriana, ou seja, a passagem de microrganismos para fora do intestino, alcançando outras partes do corpo.3 Em animais mais fragilizados, isso pode gerar complicações graves.4
É aí que entram os probióticos: microrganismos vivos benéficos que atuam para o reequilibrar as funções intestinais, consideradas fundamentais para as defesas do organismo2 e o processo de recuperação4.
Mas talvez você ainda esteja se perguntando:
“Será que esses microrganismos também podem atravessar a parede do intestino e prejudicar meu pet?”
Continue a leitura para entender porque os probióticos são seguros e como ajudam na redução e prevenção da translocação bacteriana.
Parede intestinal: muito além da digestão
Absorver os nutrientes é apenas uma das funções da parede interna do intestino do seu animal de estimação.4,5 Conhecida como mucosa intestinal, uma das funções dessa estrutura é a barreira física de proteção, que permite a entrada de nutrientes, água e sais minerais e, ao mesmo tempo, impede a passagem de compostos nocivos.4,5
Além disso, ainda abriga células de defesa e bactérias benéficas que atuam na manutenção da saúde.4,5 Ou seja, além de absorver nutrientes, o intestino também protege o organismo. 4

Mas essa proteção pode ser prejudicada por vários motivos, como o uso de antibióticos, dieta inadequada, estresse, lesões na parede do intestino e a ocorrência de doenças inflamatórias intestinais.4
Translocação bacteriana: uma consequência prejudicial
Quando a barreira natural é comprometida, as bactérias do intestino podem escapar e chegar à corrente sanguínea, e até outros órgãos, junto com as toxinas geradas por elas e seus fragmentos.4,6
Porém, quando o organismo está muito debilitado, esse desequilíbrio pode se agravar e levar a consequências sérias como infecções generalizadas (sepse), falência dos órgãos e, nos casos mais graves, o óbito do animal.6


Probióticos e pets: vilões ou aliados?
Se os probióticos são microrganismos vivos, será que eles também podem atravessar a barreira do intestino e causar problemas? Essa dúvida é comum, mas a resposta é: NÃO!Estudos com animais demonstram que, em vez de favorecerem a translocação, os probióticos ajudam a preveni-lo.4,8 Isso reforça o papel promissor dos probióticos na regulação da flora intestinal, no fortalecimento da imunidade e no alívio do sintoma de diversas doenças.2,8
Além disso, as bactérias probióticas são cuidadosamente selecionadas e não são propensas à translocação, ou seja, não costumam ultrapassar a barreira intestinal em níveis que representem risco.⁷
Na verdade, essa translocação ocorre em uma frequencia muito grande com bactérias patogênicas (que causam doenças) e oportunistas. Esses microrganismos são comuns no intestino, sem ocasionar danos. Mas podem ser perigosos quando o animal está fragilizado.7


Riscos potenciais e considerações sobre translocação bacteriana e probióticos
Como qualquer intervenção, o uso de probióticos exige responsabilidade! Embora não existam relatos de eventos adversos em cães e gatos, alguns cuidados são essenciais para garantir a segurança e eficácia do produto:9
- As bactérias que compõe o produto precisam estar claramente identificadas no rótulo;
- O probiótico deve ser produzido sob altos padrões de qualidade, garantindo que os microrganismos estejam vivos e viáveis até a administração;
- O uso em animais gravemente doentes, imunossuprimidos ou com o intestino muito comprometido deve ser feito com cautela e sempre sob orientação de um médico veterinário.
- Uma das garantias de procedência que os fabricantes podem oferecer é o mapeamento genômico para assegurar que não existam genes de virulência (“bactérias do mau”) na formulação.


Quando usados corretamente, os probióticos são grandes aliados na prevenção da translocação e na manutenção da saúde intestinal do seu animal de estimação. Mas a escolha do produto ideal deve ser feita pelo médico veterinário! Só ele é quem pode avaliar as necessidades individuais e indicar a melhor opção.
É essencial estar bem-informado na hora de escolher os produtos que vão contribuir com a saúde dos seus pets! Compartilhe este conteúdo e ajude outros tutores a tomarem decisões conscientes.
Referências
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